
Como uma Clínica Pode Criar um Convênio Odontológico e Comercializá-lo para Pessoas Físicas
A possibilidade de uma clínica odontológica estruturar e comercializar um convênio odontológico diretamente para pessoas físicas é uma alternativa estratégica para gerar receita recorrente, aumentar a fidelização de pacientes e garantir maior previsibilidade financeira. Contudo, esse processo envolve tanto questões regulatórias quanto operacionais que devem ser cuidadosamente analisadas para garantir a conformidade legal e o sucesso da iniciativa.
1. Aspectos Regulatórios e Legais
No Brasil, os convênios odontológicos são classificados como planos de assistência à saúde e, portanto, estão sujeitos à regulamentação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), conforme estabelecido pela Lei nº 9.656/1998. Segundo essa legislação, qualquer entidade que ofereça serviços de assistência odontológica por meio de um contrato de adesão, com cobrança regular e promessa de cobertura para determinados procedimentos, é considerada uma operadora de plano de saúde e precisa cumprir as seguintes exigências:
Registro na ANS: A clínica deve solicitar o registro como operadora de plano odontológico, o que envolve a apresentação de documentação específica, comprovação de capacidade financeira e estrutura administrativa para gerenciar o plano.
Capital mínimo e reservas técnicas: A clínica deve manter um capital social mínimo e reservas técnicas para garantir a cobertura dos serviços prometidos, conforme as normas da ANS.
Rede credenciada: Caso o convênio preveja a oferta de serviços de outros profissionais ou clínicas terceirizadas, será necessário estabelecer e formalizar uma rede credenciada, que também deverá ser registrada junto à ANS.
Cobertura obrigatória: O plano deve garantir cobertura para os procedimentos odontológicos previstos no rol de cobertura obrigatória definido pela ANS, incluindo exames, consultas e tratamentos de urgência.
Reajustes e prazos de atendimento: Os reajustes de valores e os prazos para agendamento e realização de procedimentos devem seguir as normas estabelecidas pela ANS.
Monitoramento e fiscalização: A clínica estará sujeita à fiscalização da ANS, que pode aplicar multas e sanções em caso de descumprimento das normas.
2. Alternativa Viável: Plano de Fidelidade ou Clube de Benefícios
Devido à complexidade regulatória e aos altos custos associados ao registro na ANS, muitas clínicas optam por criar planos de fidelidade ou clubes de benefícios como alternativa para oferecer serviços odontológicos com cobrança recorrente sem se submeter à regulação como plano de saúde.
Nessa modalidade, a clínica oferece um pacote de serviços pré-definidos mediante o pagamento de uma mensalidade ou taxa anual, sem que isso configure um plano de saúde nos termos da legislação vigente. Esse modelo é permitido desde que:
A oferta de serviços esteja claramente descrita no contrato, sem prometer cobertura integral para todos os tratamentos odontológicos.
Os serviços oferecidos sejam limitados à estrutura própria da clínica ou a profissionais previamente credenciados.
O plano seja descrito como um serviço de adesão e não como um plano de saúde ou convênio odontológico, para não se enquadrar na definição jurídica de plano de assistência à saúde.
2.1. Exemplos de Serviços em um Plano de Fidelidade
Um plano de fidelidade pode incluir os seguintes serviços:
Consultas periódicas de rotina (duas por ano, por exemplo).
Limpeza semestral ou profilaxia.
Descontos em procedimentos estéticos, como clareamento dental e facetas.
Atendimento emergencial com valor fixo por consulta.
Descontos em tratamentos complexos, como implantes e ortodontia.
2.2. Vantagens de um Plano de Fidelidade
Previsibilidade financeira: A mensalidade recorrente garante um fluxo de caixa contínuo, facilitando o planejamento financeiro da clínica.
Fidelização de pacientes: Os pacientes que aderem ao plano tendem a continuar utilizando os serviços da clínica, aumentando a retenção de clientes.
Redução de ociosidade: Os serviços incluídos no plano incentivam os pacientes a frequentarem a clínica regularmente, otimizando a ocupação da agenda.
Aumento do ticket médio: O paciente que utiliza regularmente os serviços oferecidos no plano tende a contratar tratamentos adicionais, aumentando o faturamento geral.
3. Como Implementar um Plano de Fidelidade ou Convênio Odontológico
A criação de um plano de fidelidade ou convênio odontológico envolve a definição clara dos serviços oferecidos, dos valores cobrados e das condições contratuais. O processo pode ser estruturado em etapas:
3.1. Análise de Viabilidade
Avaliar o custo dos serviços oferecidos e a capacidade da clínica de absorver a demanda gerada pelo plano.
Calcular o valor da mensalidade com base nos custos operacionais, margem de lucro desejada e valor percebido pelos pacientes.
Realizar uma análise da concorrência para entender o posicionamento de mercado e o diferencial competitivo da clínica.
3.2. Definição dos Serviços Oferecidos
Selecionar os serviços que serão incluídos no plano, garantindo um equilíbrio entre custo e valor percebido.
Estabelecer limites e regras para a utilização dos serviços (exemplo: número de consultas por ano, procedimentos com ou sem desconto).
Definir possíveis parceiros ou profissionais credenciados para ampliar o alcance dos serviços oferecidos.
3.3. Estruturação Contratual e Jurídica
Elaborar um contrato de adesão detalhado, descrevendo os serviços oferecidos, o valor da mensalidade, os reajustes e as condições de cancelamento.
Garantir que o contrato esteja em conformidade com o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990).
Definir regras claras para cobertura, carência, renovação e cancelamento.
3.4. Plataforma e Gestão Operacional
Implementar um sistema de gestão (ERP) para gerenciar as adesões, os pagamentos recorrentes e o controle de uso dos serviços.
Criar um sistema de atendimento personalizado para pacientes inscritos no plano, com prioridade no agendamento e acesso facilitado a consultas e procedimentos.
Monitorar constantemente os indicadores de desempenho (como adesão, taxa de cancelamento e margem de lucro) para ajustes estratégicos.
3.5. Marketing e Divulgação
Desenvolver uma campanha de marketing específica para atrair pacientes para o plano de fidelidade, destacando os benefícios e diferenciais oferecidos.
Utilizar canais digitais, como redes sociais, site da clínica e anúncios segmentados, para promover o plano e gerar leads qualificados.
Oferecer incentivos para a adesão inicial, como descontos na primeira mensalidade ou brindes exclusivos.
4. Riscos e Cuidados
Possíveis glosas e inadimplência: É importante ter um controle rigoroso dos valores devidos e das cobranças para evitar inadimplência e impacto negativo no fluxo de caixa.
Sobrecarga de demanda: Caso a adesão ao plano seja maior que a capacidade operacional da clínica, a qualidade do atendimento pode ser prejudicada.
Regulação inadvertida: Se o plano for percebido como um convênio odontológico pela ANS, a clínica pode ser multada e obrigada a encerrar a operação.
5. Conclusão
Criar um convênio odontológico próprio ou um plano de fidelidade é uma estratégia viável para clínicas odontológicas que desejam aumentar a receita recorrente e fidelizar pacientes. A abordagem mais segura e acessível é o modelo de plano de fidelidade, que permite à clínica operar sem a necessidade de registro na ANS, desde que os serviços oferecidos sejam claramente descritos como um pacote de benefícios e não como um plano de saúde. Com uma estruturação eficiente, é possível garantir uma base de receita estável e fortalecer o relacionamento com os pacientes, promovendo um crescimento sustentável para a clínica.
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