Lucro na Clínica: Como Definir o Valor Ideal para Sua Retirada Mensal

Equilíbrio entre remuneração e crescimento sustentável em clínicas médicas e odontológicas

Introdução

Uma clínica médica ou odontológica bem estruturada e lucrativa é o sonho de qualquer gestor ou profissional de saúde. No entanto, quando os resultados financeiros começam a ser positivos, surge uma dúvida comum: quanto retirar mensalmente sem comprometer a saúde financeira da clínica?

Definir o valor da retirada de um sócio ou proprietário é uma decisão estratégica que deve equilibrar a remuneração justa pelo trabalho desempenhado e a sustentabilidade do negócio. Muitos gestores cometem dois erros opostos: ou retiram valores excessivos, prejudicando o capital de giro da clínica, ou mantêm retiradas muito baixas, comprometendo sua qualidade de vida e motivação.

Para encontrar o equilíbrio ideal, é fundamental compreender os aspectos financeiros da clínica e definir um modelo de retirada sustentável.

1. A Clínica Está Realmente Dando Lucro?

Antes de definir um valor para a retirada mensal, o primeiro passo é entender se a clínica está realmente lucrando ou apenas gerando receita. Muitos gestores confundem faturamento com lucro, o que pode levar a retiradas insustentáveis.

O lucro real da clínica é obtido após a dedução de todos os custos e despesas, incluindo:

Aluguel, energia elétrica, água e internet.
Folha de pagamento da equipe e encargos trabalhistas.
Custos com materiais médicos e odontológicos.
Impostos e tributos.
Investimentos em marketing e tecnologia.

Se a clínica possui um bom faturamento, mas não sobra dinheiro ao final do mês, significa que os custos estão elevados ou que a precificação dos serviços não está adequada.

Exemplo prático: Uma clínica odontológica que fatura R$ 100.000 mensais, mas possui despesas totais de R$ 85.000, tem um lucro de apenas R$ 15.000. Nesse cenário, uma retirada excessiva pode comprometer a reserva financeira necessária para manter a operação saudável.

2. Definindo a Remuneração do Sócio-Proprietário

Uma vez que a clínica apresenta lucro, o próximo passo é definir o valor adequado da retirada mensal. Existem três formas principais de remuneração dos sócios:

Pró-labore

O pró-labore é a remuneração do sócio pelo trabalho desempenhado na clínica. Esse valor deve ser compatível com a função exercida e deve constar na contabilidade da empresa.

Como definir:

Basear-se na média de mercado para o cargo exercido.
Manter um valor fixo mensal, independentemente do faturamento da clínica.
Incluir o pagamento de INSS para garantir direitos previdenciários.

Exemplo: Um sócio que atua como diretor clínico pode estabelecer um pró-labore de R$ 10.000 mensais, considerando o valor médio pago a profissionais com a mesma função no mercado.

Distribuição de Lucros

A distribuição de lucros é o pagamento dos rendimentos excedentes da clínica para os sócios, feito geralmente de forma trimestral, sem incidência de encargos trabalhistas.

Como definir:

Deve ser feita somente após o fechamento do balanço financeiro do período.
Recomendável reservar uma porcentagem do lucro para reinvestimento na clínica.

Exemplo: Se a clínica obtém um lucro líquido de R$ 30.000 em um trimestre e decide reinvestir 50%, os sócios poderão dividir os outros 50%, ou seja, R$ 15.000.

Modelo Híbrido

Muitas clínicas adotam um modelo híbrido, combinando um pró-labore fixo mensal com a distribuição periódica de lucros. Isso garante previsibilidade para os sócios e sustentabilidade para a empresa.

Exemplo: Um sócio pode retirar R$ 8.000 como pró-labore mensal e, ao final do trimestre, receber uma parcela do lucro proporcional ao desempenho financeiro da clínica.

3. Quanto Posso Retirar Sem Comprometer a Clínica?

Para garantir a retirada ideal, alguns princípios financeiros devem ser considerados:

A clínica deve ter uma reserva financeira equivalente a, pelo menos, três meses de despesas fixas. Isso evita que retiradas elevadas comprometam a operação em períodos de baixa demanda.
A retirada mensal não deve ultrapassar 50% do lucro líquido. Isso garante que uma parte dos lucros seja reinvestida na melhoria dos serviços e na expansão da clínica.
O crescimento da clínica deve ser prioridade. Se a clínica precisa de novos equipamentos, contratação de profissionais ou ações de marketing, parte do lucro deve ser direcionada para esses investimentos.

Exemplo prático: Uma clínica que gera um lucro mensal de R$ 40.000 pode destinar 50% para retirada dos sócios (R$ 20.000) e reservar os outros 50% para reinvestimentos e reserva de emergência.

4. Ajustando a Retirada Conforme o Crescimento da Clínica

A retirada dos sócios não deve ser um valor fixo imutável, mas sim ajustado conforme a clínica cresce ou enfrenta desafios financeiros. O ideal é revisar a remuneração periodicamente, considerando fatores como:

Aumento ou redução do faturamento.
Necessidade de investimentos em novos serviços.
Expansão da equipe ou da estrutura física.

Exemplo: Se uma clínica que antes faturava R$ 100.000 passa a faturar R$ 150.000, o lucro pode crescer proporcionalmente. Nesse caso, pode ser viável aumentar a retirada dos sócios de forma gradual, sem comprometer o equilíbrio financeiro.

Por outro lado, se a clínica passar por um período de queda na demanda, pode ser necessário reduzir temporariamente a retirada para manter a estabilidade da empresa.

Conclusão

Definir o valor da retirada mensal de um sócio-proprietário exige planejamento e disciplina financeira. O equilíbrio entre uma remuneração justa e a sustentabilidade da clínica deve ser o foco principal.

O modelo ideal combina um pró-labore fixo com a distribuição de lucros conforme o desempenho financeiro da clínica. Além disso, é fundamental manter uma reserva financeira e priorizar investimentos estratégicos para o crescimento do negócio.

Com uma gestão financeira bem estruturada, é possível garantir que a clínica prospere e que os sócios tenham uma remuneração adequada sem comprometer a saúde financeira da empresa.

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